Tenho 28 anos, sou publicitário, fotógrafo e quase cego. Só me chamam para fazer fotos de moda para anúncios conceituais. São aqueles anúncios em que as modelos aparecem em posições desconcertantes. Modelos e atrizes famosas. A sessão de fotos é mais ou menos assim:
- Minha filha, qual a posição que você mais detesta?
- Essa aqui – ela responde, mostrando e achando que eu vejo algo, além de vultos.
- Pois você fica aí durante três horas, que vou tentar achar o melhor ângulo.
Vou lá e fico tateando-a com esse objetivo. Afinal, minhas mãos são meus verdadeiros olhos. Elas parecem gostar.
Sempre tive muito charme com as mulheres. Elas olham pra mim, ficam com peninha, perguntam se preciso de ajuda. Sempre preciso.
No início da profissão eu era bem mais pegador. Não era tão cego quanto hoje. Também não era muito feio. Eu usava óculos de grau. A visão melhorava um pouco, mas nem tanto. Uma vez teve uma atriz que fez questão de fotografar comigo. Mão ali, mão acolá. Ela gostou tanto que chamou para irmos jantar depois da sessão. Aceitei. Ela impôs apenas uma condição: ela dirigia.
Jantamos. Fomos à casa dela e quando deitamos naquela king size, ela impôs uma segunda condição:
- Você pode tirar os óculos, por favor?
Foi como ela dizer:
- Eu gostei de você. Mas você pode trocar seu nariz pelo do Brad Pitt? Aproveita e passa a sorrir como Gianecchini. Coloca também os músculos do Malvino Salvador. Assim, faço mais um minuto de amor com você, além dos cinco primeiros que se passaram até agora.
O resultado de todo esse constrangimento você já deve saber. Não, eu não brochei. Depois de tanta reflexão, eu disse em tom de ordem:
- Apaga a luz que a gente resolve todos os problemas.
Continuei de lupa. No fim da noite ela nem lembrava mais que eu usava óculos. Só lembrou no outro dia de manhã. Ela acordou e viu um bilhete com letras tremidas em seu criado mudo.
Eu escrevi: "Da próxima vez, você tira o silicone. Ele atrapalha muito".
1 comentários:
Putz!
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